Nova obra do escritor Ruy Póvoas conta a história do ponto de vista do excluído
O livro "Mejigã e o contexto da escravidão" organizado pelo professor Ruy do Carmo Póvoas, publicado pela Editus - Editora da Universidade Estadual de Santa Cruz, será lançado no dia 17 de abril, às 9h30min, no auditório do 5º andar do edifício José Haroldo Castro Vieira (Torre Administrativa), numa promoção da Editus e do Nucleo de Estudos Afro-Baianos Regionais - Kàwé.
Com 490 páginas, o livro reúne textos de André Luiz Rosa Ribeiro, Arélo Barbosa, Flávio Gonçalves dos Santos, Ivaneide Almeida da Silva, Kátia Vinhático Fontes, Maria Consuelo Oliveira Santos, Marialda Jovita Silveira, Mary Ann Mahony e Terezinha Marcis. Projeto gráfico e capa de Alencar Júnior e revisão de por Maria Luisa Nora e Genebaldo Ribeiro.
"Mejigã e o contexto da escravidão tem o objetivo de revelar uma trajetória de quase dois séculos e trazer à luz parte da história de nosso povo, de nossa gente, e de nossa terra, até hoje repassada apenas pelas vias da oralidade. Trata-se, portanto, de um resgate da história. e, sobretudo, de contar a história do ponto de vista do excluído. Com isso estaremos promovendo a divulgação do saber e do conhecimento de uma comunidade afrodescendente, contribuindo para a integração de saberes e quebra de preconceitos." assinala o professor Ruy.
A professora Maria Luiza Nora (Baisa) frisa: "Às vezes, história, estória e ficção se confundem, até porque os limites de cada um são sutis. E ao tratar do africano, afrodescendente, do povo de terreiro, do candomblé, este transito é mais propício, mais facilitado, pois não lhe foram dadas voz, visibilidade, vez; logo, o que lhe foi negado foi sua condição de humanidade.
"O livro Mejigã e o contexto da escravidão serve para fortalecer um sentimento de pertença. Nós sairemos da sua leitura mais maduros, mais ricos e, talvez, mais angustiados. Mas, paradoxalmente, mais felizes, por saber ter encontrado maturidade intelectual e elegância na escrita, nos autores e por ter tomado contato com histórias que são nossas, são dos brasileiros, e que desconhecemos ou fingimos desconhecer". afirma a professora.
Mejigâ foi trazida da cidade de Ilexá, na África, onde era sacerdotisa de Oxum, para ser escrava no Brasil, e se deparou em Ilhéus, no Engenho de Santana, onde recebeu o nome cristão de Inês. Quando ela se libertou, reassumiu o seu nome tribal, Mejigâ, e se dedicou à sua religião e a socorrer doentes com o seu conhecimento da flora medicinal.
"Mejigâ continua falando, através das narrativas dos seus descendentes. Pelos seus predicados, resistência e largueza de objetivo, ela conseguiu que os seus descendentes conservassem o saber que ela transmitiu. E foi além: sua família aprendeu com ela, a velha sacerdotisa, também a perpetuar uma compreensão e uma interpretação do universo e da vida para além do paradigma oriundo da Ibéria", destaca o professor Ruy Póvoas.